"Enlouqueça aquele pouquinho necessário para fazer a vida parar e, de repente, parecer que faz sentido."
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
Começa com Fê e não termina
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
Riso
sexta-feira, 30 de setembro de 2011
A velhinha da encruzilhada
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
Boi da cara preta
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
Sem título digno para sua complexidade.
sexta-feira, 16 de setembro de 2011
A vida é bela
terça-feira, 13 de setembro de 2011
Lá, Lá, Lá
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quinta-feira, 25 de agosto de 2011
Caído
A manhã ainda estava dormindo quando saí de casa. Tropecei numa pedra cinza e gigante. Era um sinal. Abri a mochila e peguei o caderno de anotações. “Pedra cinza... pedra gigante... Ah, bem aqui: Causar discórdia”. Fechei o caderno, sorri e fui pro mundo.
Ao descer do ônibus, na porta da livraria, vi o casal que mais me causa repulsa lá dentro. Lindos, simpáticos e sem nenhuma demonstração de inteligência. Perfeitos para a minha aventura diária.
Aproveitei a presença de uma dessas mulheres que quer se sentir culta por estar numa livraria - dessas que ficam folheando livros de autoajuda e entram na loja com uma postura inexistente quase impecável – para brincar. Olhei para o enamorado que atendia a moça. Cheguei perto da dona dele, no balcão. Só queria conversar um pouquinho.
- Vocês dois estão brigados?
- O quê?
- Vocês dois estão brigados?
- Vocês dois quem? – Você e o Machado de Assis. Sinceramente... Não se fazem mais boas vítimas.
- Você e o Marcelo.
- Marcelo... – Ela sorriu e acenou para ele, que para minha sorte estava muito concentrado no trabalho – Não, por quê?
- Ah... por nada. - Lançou-se o mal.
- Fala!
- Não, nada.
- Começou agora fala! – São todas iguais
- É que... Ele tá te tratando diferente. Olha, nem te acenou de volta! Você não acha que ele está muito próximo daquela bonitona ali, não?
Ela Apertou os olhos, tentando ver melhor. Mentira falada, verdade provada.
- Você acha?
- Olha só! Ele está pegando na cintura dela! – Obrigado, ilusão de ótica.
- Não acredito! Como ele pode estar fazendo isso na minha frente!
- Pior quando ele te esconde...
- Esconde??? Do que você sabe?
- Ops... Melhor eu ficar quieto. – Ela me olhou, suplicante. – Tá. Algumas vezes, enquanto você ia comprar o almoço, ele dava em cima das clientes. Até trocavam números de celular.
- Algumas vezes? Mais de uma? – Demonstração de compreensão única.
- Pois é. Se eu fosse você iria tirar satisfação com ele agora.
- Agora? Em horário de trabalho e com ele atendendo?
- E você vai deixar isso pra depois? – Ela respirou fundo e se armou com toda sua fúria.
Eu não queria mais trabalhar ali mesmo. Enquanto a, agora desesperada, miss simpatia ia correndo, derrubando estantes e tudo que visse pela frente – inclusive a mulher – para espancar seu namorado com uma força inimaginável, eu saía satisfeito com a aventura. Liguei pro chefe, disse que a loja estava uma baderna e que eu queria me demitir. Desliguei antes de qualquer reposta. Sorri para o céu azul que me esperava lá fora.
Opa! Uma pessoa com camisa branca. É um sinal. “Camisa preta... camisa amarela... camisa branca, aqui! Humm, minha preferida.”
Se o inferno são os outros eu sou o próprio diabo.
Laysa Menezes
sábado, 20 de agosto de 2011
Lição
A abelha apareceu atordoando toda a família.
Barulhenta e boba, beliscando nossa bigorna.
Com cuidado caminhei até ela
Deixando de lado discursos dispensáveis de parentes.
Era extravagante o amarelo estampado em seu corpo.
Fiquei focada na abelha e fincada ao seu lado, feliz.
Gostava de garantir a segurança de seres pequenos.
Habilidosa, a abelha , como de hábito, entrou num mínimo buraco.
“Ilha inabitada de humanos” era como eu chamava.
Jamais juízo, joelho e gente tinham entrado ali.
Logo comecei a labirintar longe, buraco adentro, rasgando-o
Momento mágico
Nunca nada se equiparou a isso.
Os olhos não ocultam o fascínio.
Por um momento, parei de respirar e só admirava a colônia secreta
Quando quase fui encontrada pela abelha rainha que voava.
Ruídos, realeza, tudo se misturando.
Só soube admirar os pontos amarelos brilhantes no ar.
Tinha tudo tão perto de mim. Queria tocar...
Ui! Por que ela me picou?
Vão embora! Parem de me magoar, me trair.
Xô!!!!
Zumbido coisa nenhuma, nunca mais sigo abelhas.
Laysa Menezes
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
Filosofias de boneca
E Deus?
- Deus é o nome do papai do céu, não é? Por que Ele escolheu esse nome? Por que não escolheu Arthur que é mais bonito, igual o do meu priminho?
Ela, sentada na cama, balançava os pezinhos que não conseguiam tocar o chão. Filosofava com uma grandeza e sabedoria não tão estranhas para crianças.
- Ele está em todos os lugares? Mas como pode? Ele tem poderes de super heroi? Ou é mágico? Ou... Ah já sei! Mamãe, Deus não pode estar em todos os lugares.
- Por quê? – A mãe sorria.
- Porque é impossível. Mas ele sabe de tudo de todo mundo porque tem uma televisão gigante. Ele não é grande? Muito grande? Então. Deve precisar de uma televisão grandona também. E nela aparecem todas as pessoas do mundo, tudo o que estão fazendo... Aaaaah, eu sei de uma coisa que Deus não sabe.
A mãe levantou uma sobrancelha e sentou na cama ao lado da pequena, olhou séria para a filha e do jeito mais carinhoso que havia falou:
- Meu amor, não existe coisa que o papai do céu não saiba.
- Existe sim. As coisas que estão aqui, mamãe, na nossa cabeça. O que eu falo e você não ouve. O que só eu sei e só conto se quiser. Deus por acaso sabe o que ninguém diz?
- Sabe, o Senhor sabe tudo, lê mentes.
- Não lê, não. Como pode, hein? Ninguém faz isso. Ah, não, mamãe. Pare de mentir pra mim!
- Não estou mentindo. Só lendo mentes é que Deus consegue traçar o destino de cada um, de acordo com suas vontades, entendeu?
- Traçar destinos? Como assim?
- Construir a sua vida.
- Mas não sou eu que construo a minha vida? Mãe, papai do céu tá muito danadinho. Ele lê o que eu guardo na minha cabeça, constrói a minha vida... Parece até o que eu faço com as minhas bonecas. Por que a gente nasce? Pra Deus brincar com a gente? Entendi. Olha, mãe, nós até somos um pouco “Deus”. Nós também usamos os brinquedos para nos divertir um pouco. Mamãe, será que Ele gosta de brincar comigo?
Posso escolher um nome feio também?
segunda-feira, 20 de junho de 2011
A nefelibata
Helena subiu uma escada infinita até chegar ao topo do céu. Pela primeira vez olhou para cima. Sorriu. Deitou. Olhou os pontos brilhantes e os viu, em montes, escorregando pelo escuro, dizem que se fizer um desejo no momento exato da queda eles vêm até você, pegam o desejo e o realizam. Em troca pedem um espelho, são vaidosos. A menina continuava a sorrir até que ouviu a voz de Nino, do seu lado, dizendo: “Boba”. Despertou do seu transe e abraçou seu querido, sussurrando: “Bobo é quem não retribui o sorriso da lua”. A partir daí ignorou novamente o mundo a sua volta e dormiu ouvindo estrelas.
Acordou sendo carregada aos pulos por uma rã gigante. Sentiu a pele úmida e, por horas, se perguntou como o bicho tinha conseguido tal façanha.
- Dona rã, como você conseguiu me colocar nas costas?
- Coach.
- Como?
- Coach.
- Ah é, rãs ainda não falam.
- Coach, coach.
- O passeio foi bom, obrigada por me carregar, mas tenho que ir agora.
E a rã saiu pulando para bem longe. Para o mar. Assim descobriram que os anfíbios têm espírito suicida.
Helena caminhou pela lama grudenta que puxava seu sapato feito de flores. Encostou-se em uma árvore para descansar e brigar um pouco com a terra que não a deixava em paz. Lembrou-se de Nino. Onde ele estaria para não ver que ela tinha sido raptada por uma rã? Olhou para cima e viu o gigante Tuiuiú no topo da árvore, se fazendo rei. Queria conversar com ele, mas se achou plebeia. Do lado as asas das borboletas davam palmadas no ar. Elas, juntas, iam tonalizar o nascer do sol. A menina pediu carona e todas, num flap, flap, flap, aceitaram. Panapanã e a humana passeavam por cima do rio enquanto as Traíras, invejosas, tentavam voar também, mas logo desistiram.
Deixada pelas borboletas na terra vermelha, Helena, agora pintada de todas as cores, pôs-se a catar o amado em todos os lugares. Perguntou para a árvore, para o senhor jacaré - que sempre sabe de tudo e é muito inteligente -, para o sol e ninguém, nenhum ser existente, sabia do paradeiro de Nino. Preocupou-se. Sentou no começo daquela primeira escada e desesperada, chorou. Chamou por Nino baixinho, porque se gritasse machucava o ouvido do vento. Chorou em seus joelhos por muito tempo, até que o menino surgiu ao seu lado, acariciando-lhe as costas, perguntando o que houve. Ela o abraçou e perguntou:
- Onde você se meteu que nem o jacaré soube dizer?
Pegando em sua mão ele respondeu que estava na hora de voltar, mas a menina não queria.
- Helena, o tempo passou. Temos que voltar.
- Não passou, não temos.
- Você tem compromissos lá.
- Não tenho. Me deixa ficar. E fica comigo...
O menino, insistente na realidade, puxou a nefelibata e os dois foram embora do mundo idealizado-existente. Prometeram voltar. Na despedida, Helena deu um beijo em tudo que havia, via e ouvia e com um tchau molhado disse: Até logo, meu Pantanal.
Laysa Menezes
terça-feira, 17 de maio de 2011
Neurótica
A luz está focada em duas cadeiras no meio do palco voltadas uma para outra. Na primeira está sentada uma mulher que aparenta estar impaciente. Entra em cena outra andando depressa em direção a cadeira vazia.
LUÍSA - (Sentando na cadeira) Desculpa, doutora, o ônibus atrasou.
PSICÓLOGA - Tudo bem... (Olha anotações em um caderno)Luísa, certo?
LUÍSA - Sim.
PSICÓLOGA - Então, Luísa, o que acontece?
LUÍSA - Bom, as pessoas dizem que eu sou neurótica.
PSICÓLOGA - Hum... E por que elas dizem isso?
LUÍSA - Porque eu sempre penso que minha menstruação vazou.
PSICÓLOGA - Sua... Menstruação... vazou. (Com a aparência de quem concorda em chamarem Luísa de neurótica)
LUÍSA – VASOU!? (Erguendo as mãos para o céu) Senhor, por que me abandonaste?
PSICÓLOGA – (Fica olhando incrédula por um tempo. Depois pisca e volta a falar) Não, não. Acalme-se, só estava organizando meus pensamentos.
LUÍSA – Ah (Aliviada). Nossa, quase que você me matava.
PSICÓLOGA – (Sussurra) É pior do que eu pensava... (Falando alto) Então, por que você pensa isso toda hora?
LUÍSA - É que é o seguinte doutora, eu acho isso uma nojeira e uma falta de cuidado absurda! Então toda vez que eu fico menstruada penso que vai acontecer comigo.
PSICÓLOGA – (Anotando no caderno) Como você age nesses dias?
Luísa levanta e vai em direção às cadeiras de sala de aula dispostas no outro lado do palco, onde a luz é focada. Um grupo de pessoas entra em cena e senta nas cadeiras.
LUÍSA - Nos dias que ela me visita toda vez que eu vou para a aula sento na cadeira (Senta), passo a aula inteira pensando no meu absorvente e quando é hora de ir embora levanto suando frio (Levanta) e olho para a cadeira para ver se tem alguma poça (Olha). Se vejo que sim cogito me matar ali mesmo. Se vejo que não, passo a mão na bunda (Passa) para ver se tem alguma coisa úmida ou suspeita, só para checar. Quando vou andando na rua (Sai da sala de aula e começa a andar pelo palco onde passam pessoas, como numa rua agitada) sinto que todos estão olhando para mim com pena, como se dissessem...
TODOS - Lú, vazou!
LUÍSA - Então só por segurança ando com um casaco para amarrar em minha cintura a qualquer momento. (Sorri e volta para a cadeira em frente à outra mulher)
PSICÓLOGA – (Embasbacada) Estou perplexa. (Respira fundo) Há mais alguma coisa que você queira me contar?
LUÍSA – Hum... Não... Ah, algumas vezes isso acontece quando eu não estou menstruada.
PSICÓLOGA – O quê!?
LUÍSA – Isso também acontece quando eu não estou menstruada.
PSICÓLOGA – (Levanta, anda de um lado para o outro com a mão na cabeça) É, querida... (Para e olha para Luísa) Temos um longo trabalho pela frente.
A luz apaga. As mulheres saem e tudo é retirado do palco. Apenas Luísa volta. Age como se estivesse saindo de casa.
LUÍSA – Tchau mãe, até mais tarde.
Um homem entra em cena, vê a mulher e vai na direção dela.
HOMEM – Lú! Como foi...
LUÍSA – (gritando) Nem vem que a minha menstruação desse mês já passou!
As cortinas se fecham.
terça-feira, 3 de maio de 2011
Paixãozinha démodé
Mariana, sempre azarada, amou um menino que a amou também. Repetiam um para o outro o que falavam todos os dias para o espelho, para a cadeira, para o computador, com a mesma importância. Era um “eu te amo” quase sincero muito valorizado.
“Eles combinam!”, as pessoas cochichavam baixo o suficiente para que o casal ainda pudesse ouvir. A menina e o menino sempre andavam juntos, se beijavam quando se viam e novamente quando se despediam - “Que fofos!”. Mariana mandava para o suposto amado textos românticos, copiados de agendas de amigas, parecidos com aqueles textos eternos e onipresentes. O namorado pagava sua entrada para o cinema. Eram perfeitos e comuns.
Um dia Mariana sentiu náuseas de ouvir aquela frase gasta (finalmente, Mariana!). Cogitou a possibilidade de terminar a relação, mas era tudo tão bem visto pelos outros. As aparências tinham que ser mantidas e o garoto concordava. Davam as mãos ao andarem na rua, em casa e até acompanhavam o outro até a porta do banheiro. Era afeto, cuidado e amor, acima de tudo o amor.
“Amor coisa nenhuma!”, disse a menina para seu namorado. Não aguentando mais a prisão optada os dois arrumaram um jeito de explicar a separação. Brigaram em público. A causa? Ciúmes, é claro. Há então motivo mais démodé? “É isso que dá amar demais, a pessoa fica possessiva, ciumento. Eram um casal tão bonito...”, comentavam.
É, meus caros, o sonhado que se concretiza é só uma farsa da realidade.
Laysa Menezes
sábado, 16 de abril de 2011
Amassa
Faltava doce. O sal estava presente em todas as refeições da academia militar, mas o açúcar... Faltava doce. O paladar das pessoas já idealizava o grão branco sem gosto salgado. Tinha frutas, tinha adoçante, porém nada se comparava ao gosto real do cristalzinho.
Os soldados reclamaram aos cabos que reclamaram ao sargento, chegando ao coronel, até que – finalmente – tiveram uma resposta. O coronel anunciou que no dia seguinte haveria bolo de chocolate na sobremesa da segunda refeição.
O alvoroço foi grande. Nunca se almoçou tão rápido e nunca foi tão alto o índice de indigestão dos militares. Depois do almoço, formou-se uma fila no balcão em que se pegaria a sobremesa. O bolo ainda não estava pronto. Algum tempo depois surgiu, da cozinha, do outro lado do refeitório, um traço branco que se transformou numa mulher carregando uma, apenas uma, bandeja com pedaços de bolo.
Sargento Kal, conhecido por sua justiça e sagacidade, percebeu que não haveria mais bandejas e ele, que estava no final da fila, não conseguiria nada. Utilizando, então, só a sagacidade (“Justiça coisa nenhuma!”), andou com o braço estendido, cada vez mais rápido, em direção à mulher que já não estava tão distante. Os soldados que analisavam a situação perceberam logo as intenções do esperto sargento e puseram-se a fazer a mesma coisa. Novas pessoas foram fazendo o mesmo e outras e outras. Formou-se um amontoado de dedos, rostos, pernas, chocolate e ponto branco. Acabou-se tudo. Bolo e moral. Faltava doce.
Laysa Menezes
quarta-feira, 2 de março de 2011
O pessimista (reescrito)
Meu avô, já velhinho, vive de namorico com a senhora dona morte. Não há outro assunto que o interesse. Um dia eu e minha irmã fomos para a casa dele, visitá-lo, e ele estava na varanda, lendo um livro. O título: “Depois da morte”. Minha irmã, que cisma com essas ideias tenebrosas por parte dele, disse logo:
- Mas, vô! Por que ler um livro desses? Não tem outro?
- Claro, minha netinha. Por favor, pegue ali em cima da mesa “a morte de um estranho”.
Eu sorria discreta no meu cantinho. Observar um avô nunca foi tão divertido e cansativo. Cansativo, sim. Imagine escutar tantas vezes a palavra morte em um curto espaço de tempo!? Tentei convencê-lo de que iria viver muito ainda, mas o velho gosta do pessimismo.
Chamando o resto da família para a varanda, na tentativa de tornar a conversa mais diversificada, surgiu a curiosidade de saber quantos anos minha avó teria. Cada pessoa chutava um ano de nascimento, o qual ninguém acertava, nem seus filhos. Então, cansada de ouvir erros, ela falou:
- Nasci em 38!
E meu avô, dignamente respondeu:
- 38 é uma boa arma.
Ao se despedir de mim, para não perder o hábito, não deu a bênção de costume e sim um “Até o paraíso, minha netinha”. Ele ainda vive, ansioso para que a dama de voz tão convidativa se aproxime.
Laysa Menezes
Dura como pedra
Beijo o teto para mostrar a todos nossa relação. Temos um namoro que começou por um selinho que nunca se acabou. Meus pés tocam o chão (e por acaso sou passarinho para saber voar?), seria mais apropriado dizer que eles chutam, esmagam, esfregam, destroem o chão. Ele não quer me largar, não entende que o de cima foi o que me conquistou.
Enquanto tenho uma proximidade com esses dos quais já falei, os outros, os humanos – esses pequenos danadinhos que ficam para lá e dalí para longe – me negam a existência. Aliás, sou lembrada por eles sim. Quando querem informar algo vêm logo a mim, pendurar aquelas placas grudentas que não consigo me livrar, não tenho braços.
Na fila do almoço fico muito constrangida. Uma floresta de mãos, braços e pernas, passa por mim, mas não na intenção de me acariciar e sim para ter algum encosto na espera inacabável e entediante que é a característica universal das filas. Fico com raiva, pois o teto permanece imparcial. Nem para ter um pouquinho de raiva? Essa relação não vai durar muito... Mas voltando a floresta de corpos, quando não me cobrem para descansar usam-me como objeto de brincadeira, esconderijo de pega-pega.
Depois ainda reclamam, às vezes, que sou muito dura. E como não ser? Não recebo nenhum tipo de afeto da parte deles, ainda costumam soltar “ela é feia e cinza!”, como ser bonita se não me fazem assim? Eu sustento o céu de tijolos deles e não sou retribuída de nenhuma forma, mas continuo aqui. Talvez a dureza me faça resistente, psicologicamente.
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- Laysa Menezes
- Laysa Helena, 19 anos. Atriz frustrada por ter memória fraca, encontrou na escrita um modo de ser várias pessoas sem precisar decorar textos.
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