quarta-feira, 2 de março de 2011

Dura como pedra

Beijo o teto para mostrar a todos nossa relação. Temos um namoro que começou por um selinho que nunca se acabou. Meus pés tocam o chão (e por acaso sou passarinho para saber voar?), seria mais apropriado dizer que eles chutam, esmagam, esfregam, destroem o chão. Ele não quer me largar, não entende que o de cima foi o que me conquistou.

Enquanto tenho uma proximidade com esses dos quais já falei, os outros, os humanos – esses pequenos danadinhos que ficam para lá e dalí para longe – me negam a existência. Aliás, sou lembrada por eles sim. Quando querem informar algo vêm logo a mim, pendurar aquelas placas grudentas que não consigo me livrar, não tenho braços.

Na fila do almoço fico muito constrangida. Uma floresta de mãos, braços e pernas, passa por mim, mas não na intenção de me acariciar e sim para ter algum encosto na espera inacabável e entediante que é a característica universal das filas. Fico com raiva, pois o teto permanece imparcial. Nem para ter um pouquinho de raiva? Essa relação não vai durar muito... Mas voltando a floresta de corpos, quando não me cobrem para descansar usam-me como objeto de brincadeira, esconderijo de pega-pega.

Depois ainda reclamam, às vezes, que sou muito dura. E como não ser? Não recebo nenhum tipo de afeto da parte deles, ainda costumam soltar “ela é feia e cinza!”, como ser bonita se não me fazem assim? Eu sustento o céu de tijolos deles e não sou retribuída de nenhuma forma, mas continuo aqui. Talvez a dureza me faça resistente, psicologicamente.

Pilastra

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