sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Começa com Fê e não termina


            Não precisa falar. Não quer falar. Fica calado. Mão no queixo, olhar distante observando, imperceptivelmente, tudo a sua volta. De repente... Uma câmera um estalo uma piscada e, é claro, um lápis.
            Essa conversa de olhos que é tão engraçada, tão íntima e acolhedora, chama a todos. Ninguém fica fora da brincadeira. “Vamos criar? Só mais um pouquinho, por favor. Hoje eu estou todo cinema. Quero uma filmadora seguindo cada boca que é para pegar cada expressão. Não. Desse jeito não.” E gestos, gestos, gestos... Todos abrem os olhos ansiosos, esperando. “O que ele quer dizer com esse movimento todo, meu Deus do céu?”. É a palavra que não vem, contraditório. Mas é tão claro, chega a ser estranho as pessoas não entenderem. “Eu quero – mãos – é... – dedos – quero... – mão no rosto.”
            Cada frase é poesia. Ele todo a é. Uma misteriosa, divertida, descritiva, a-d-j-e-t-i-v-a. É magia, quase bruxaria. Sabe de tudo. Ele nos lê e não precisamos falar. Nos suborna com um charme teatral “me dá sua história?”. Caçador de frases cotidianas diferentes, que brilhem, para que ele possa segurá-las, melhorá-las e entregá-las de presente ao caderno que vira livro.
            E não há abraço mais leve. Ele deve pensar: “Se eu apertar demais talvez esprema palavras que não preciso” e ele só quer o necessário. Então alisa as costas do abraçado. Pronto. O pouco já revela o carinho da pessoa amiga que ouve e aconselha, falando sempre o que precisamos ouvir. É bruxaria. Mais que isso, é observação. Mais que isso, é amizade.
            Vamos, meu bem. Suba na janela e não espere, vá. Deixe que o vento - que traz as palavras transparentes – te leve e te aperte, para você explodir em contos, os outros poderem te respirar e, finalmente, Fernandoriar.
Com muito carinho para meu amigo Fernando.
 Laysa Menezes