segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Sem título digno para sua complexidade.

               Não tem nada igual. Nada que se compare nem que tenha a mesma grandiosidade que isso tem. Finalmente poder rever a minha filha, tão pequena. Meu bem, andando naquela motoca colorida. Eu choro, corro, sorrio. Ela para, desce do brinquedo e corre até mim. Abre a boca, com alguns dentes a mais que da última vez, e ouço sua voz, fininha, gritando “Mamãe! É a minha mãe! É a minha mãe!”. Tudo valeu a pena.
               Eu queria esconder para sempre. Colocar uma faixa na barriga. Desaparecer. Na verdade eu só queria que meus pais ignorassem. Não contei para ninguém e não pensava em contar antes de ficar óbvio. Mas minha mãe – sempre sábia, sensitiva, e outros adjetivos destinados às mães – desconfiou. Fomos pro hospital da capital, eu seria examinada na presença dela. Tentei desfazer isso perguntando se ela não tinha alguma coisa para resolver, algumas contas para pagar...
- Eu tenho, minha filha. Que bom que você me lembrou. Vou e volto rapidinho.
              Deus do céu, como eu rezei! Pedi mil vezes para que tivesse uma fila interminável no banco, que ela demorasse, que ela chegasse depois da consulta. Mas isso não aconteceu. Ela estava comigo no momento em que chamaram meu nome, em que eu suei e desejei não estar ali.
- Então, doutora. Ela está grávida? – Houve uma troca de olhares entre mim e a médica. Eu, desesperada, e a médica, lamentosa.
- Pois é, temos que fazer alguns exames para confirmar, mas tudo indica que sim.
               Não consegui mais olhar para minha mãe, não tinha mais esse direito. Ao sair do consultório só chorei, sem parar, compulsivamente.
- Minha filha, por que você não me contou? Por que não me pediu ajuda?
- Não sei, mãe, não sei. Desculpa. – E eu não parava de chorar.
              Imaginava a vergonha que minha mãe deveria sentir. Entre seis filhos, sua filha mais nova foi a primeira a engravidar. Apenas dezoito anos. Menina direita, de boa família. Numa cidade pequena como Penedo, com que fama a família ficaria? Mas minha mãe nunca demonstrou nada parecido. Ela foi forte, mais que ninguém.
              No mesmo dia voltamos para casa. Primeiro mamãe contou para meu pai. Eu não tinha coragem. Ele sempre foi um homem duro. Não sei se ia continuar gostando de mim. Depois reunimos toda a família. Os três homens e as outras duas mulheres. Eu ainda não falava.
- Meus filhos, tenho uma notícia muito séria para dar à vocês. – Tensão - A Mônica está grávida.
- O QUÊ?
                As meninas correram para me consolar e me perguntar como eu tinha deixado aquilo acontecer, enquanto os meninos gritavam felizes “Vamos ser titios!”, “Teremos uma sobrinha!”.
                Três dias depois meu pai pediu para que eu chamasse meu namorado para contar a novidade e para que eles conversassem. César nunca tremeu tanto. Meu pai já causava medo e nunca teve uma relação boa com os namorados das filhas, mas naquele dia tudo estava pior.
- Eu caso, eu caso com ela, seu Nilson.
- Eu sei, você não é nem doido de não casar. Vai casar sim e o mais breve possível.
                Casamos. Novos e com medo. As fotos do casamento mostram uma felicidade cheia de preocupação. Depois de mais de um ano do nascimento de Laysa nossa situação financeira ficou mais difícil. Deixamos a bebê na casa dos meus pais, onde ela morou por três meses, para procurar emprego em Maceió.
A saudade se mostrou insuportável. Mas tudo valeu a pena.
Laysa Menezes

8 comentários:

Anônimo disse...

Exatamente assim, mas valeu a pena mesmo ver você agora essa pessoa maravilhosa, inteligente que vc se transformou e que nos enche de orgulho sem perder a doçura de sempre com o mesmo brilho no olhar quando me encontra igual quando soltou aquela motoca. Amo-te demais filha.

Laysa Menezes disse...

Também te amo muito, mãe!!!!!

Tia Luluzinha disse...

E isso ai formou uma família linda e abençoada,e a menininha da motoca Deus colocou nos braços de seus pais para presentear a sua família e a todos.

Amamos você Laysa

Bruno Costa disse...

Amor e sorte, a vida é amor e sorte. Parabéns pela filha, pela família, pela luta.

Tia Nena disse...

Naquela época você foi, e continua sendo nosso maior tesouro. Foi difícil mas, sempre soube que tudo ficaria bem.Você é o nosso orgulho.Te amo.

Laysa Menezes disse...

minha família é linda!!!!!!!

elson disse...

você me fez lembrar quando eu te ensinava a reinar no som 3 em 1 que tinhamos no ap do José Tenório, continui assim você é linda, te adoro. Tio elson

carli. disse...

own, que história *-* mas você deveria ter dado um título u.u