- Um, dois, três e... E...
- Vai logo! – Gritou o rapaz.
- Calma! Tenho que tomar coragem.
– Respondeu a nervosa.
- Sabia que você não ia
conseguir.
- E já!
A
menina apaixonada e o menino mais velho saíram correndo, sorrindo de desespero,
ladeira abaixo. Era uma vertente íngreme, esburacada, cheia de árvores que
surgiam de repente na frente da dupla. Eles se enganaram pensando que depois de
dar o primeiro passo conseguiriam parar. A descida foi feita de trombadas,
tropeços, rolamentos, aberturas... Seria uma corrida ou uma apresentação
circense? Um espetáculo de aventura! E era bem isso que os dois queriam. Se não
queriam... Conseguiram do mesmo jeito.
Pretendiam
chegar ao sítio que ficava depois da floresta-que-machuca. Ele pegaria mangas e
ela goiabas, como o combinado. O menino ficou com a mangueira porque era mais
alta e por causa do desejo que ele tinha pela fruta. A menina ficou com a
goiabeira porque foi a primeira que lhe passou pela cabeça. Na verdade ela nem
gostava de frutas e argumentava para quem quisesse ouvir: “A culpa é da
industrialização e não minha!”.
Quando
conseguiram se arrastar até a cerca, ela, agora manca, não tinha um chinelo – e
ainda estava no lucro. Já ele, mais alto, encontrara umas protuberâncias na
testa no meio do caminho, quando bateu naquela imensidão de ramos. Pra que
tanto galho? Pra que tanto galo, meu Deus?
A
mais nova Saci-Pererê e o bêbado-sem-cachaça se encaminharam para suas
respectivas árvores. Sem conseguir raciocinar, o garoto alisava o tronco. A
companheira, sem saber o que fazer, pois nunca tinha se embrenhado no mato,
imitava o amigo. Que cena bonita era aquela. Quanto amor à natureza, quanto...
- AH! – Gritou, assustada, a
menina
- Ãn? – Disse o distraído.
No
meio deles, com um olhar de possuído e raivoso, um cachorro rosnava e latia
compulsivamente.
- Um cachorro? – As sequelas
permaneciam.
- Não, esse é o próprio cão!
O
cachorro, preto feito carvão, devia ter um pouco de pena dos jovens. Por isso
continuava só com aquele latido meio irônico, sarcástico, estranho.
- O que a gente faz? Eu não sei
subir em árvore!
- A gente enfrenta – O herói deu
um passo para perto do demônio animalizado, enquanto o bicho já olhava com
desprezo e desânimo para os dois.
- Não! Eu não quero que você morra! –
Declaração de amor subentendida.
- Eu não vou morrer, é só um
cachorro. Vem cá, totó!
- Êpa! Totó já é demais. Eu estava sendo tolerante com
vocês, mas me ridicularizar... Ah, não. – falou o cachorro.
- É o cão! É o cão! Senhor, eu
sou uma boa menina! Me salva! – E não é que ela aprendeu a subir em árvores?
- Vixe! É o demo mesmo! Sai desse
corpo, deixa o pobre animal viver em paz!
- Vocês, crianças, tão idiotas,
ingênuas e estúpidas. Minha filha, se eu sou o demônio e consegui possuir um
cachorro o que te faz pensar que eu não vou subir aí para te pegar? E, menino,
vai dormir. Que tédio! Vou acabar logo com isso.
Houve
gritos, latidos, choro, riso, mordida, riso, lambida, riso, sangue, riso.
Nenhuma fruta, só tragédia. Será que eles tinham medo de careta?
Laysa Menezes
7 comentários:
buááá´o que aconteceu com eles!? *-*
morreram hahahahahhaa
de gargalhadas?
ou de medo?
morreram literalmente.
Quem sabe escrever é outra história...rsrs
Parabéns. Tem futuro viu?
Abraços!
Belo blog, belas palavras, belo talento. Pelo que vi, meu lance é música mesmo...rsrs
Bela história!
Brigada, Milena!
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