segunda-feira, 20 de junho de 2011

A nefelibata

Helena subiu uma escada infinita até chegar ao topo do céu. Pela primeira vez olhou para cima. Sorriu. Deitou. Olhou os pontos brilhantes e os viu, em montes, escorregando pelo escuro, dizem que se fizer um desejo no momento exato da queda eles vêm até você, pegam o desejo e o realizam. Em troca pedem um espelho, são vaidosos. A menina continuava a sorrir até que ouviu a voz de Nino, do seu lado, dizendo: “Boba”. Despertou do seu transe e abraçou seu querido, sussurrando: “Bobo é quem não retribui o sorriso da lua”. A partir daí ignorou novamente o mundo a sua volta e dormiu ouvindo estrelas.

Acordou sendo carregada aos pulos por uma rã gigante. Sentiu a pele úmida e, por horas, se perguntou como o bicho tinha conseguido tal façanha.

- Dona rã, como você conseguiu me colocar nas costas?

- Coach.

- Como?

- Coach.

- Ah é, rãs ainda não falam.

- Coach, coach.

- O passeio foi bom, obrigada por me carregar, mas tenho que ir agora.

E a rã saiu pulando para bem longe. Para o mar. Assim descobriram que os anfíbios têm espírito suicida.

Helena caminhou pela lama grudenta que puxava seu sapato feito de flores. Encostou-se em uma árvore para descansar e brigar um pouco com a terra que não a deixava em paz. Lembrou-se de Nino. Onde ele estaria para não ver que ela tinha sido raptada por uma rã? Olhou para cima e viu o gigante Tuiuiú no topo da árvore, se fazendo rei. Queria conversar com ele, mas se achou plebeia. Do lado as asas das borboletas davam palmadas no ar. Elas, juntas, iam tonalizar o nascer do sol. A menina pediu carona e todas, num flap, flap, flap, aceitaram. Panapanã e a humana passeavam por cima do rio enquanto as Traíras, invejosas, tentavam voar também, mas logo desistiram.

Deixada pelas borboletas na terra vermelha, Helena, agora pintada de todas as cores, pôs-se a catar o amado em todos os lugares. Perguntou para a árvore, para o senhor jacaré - que sempre sabe de tudo e é muito inteligente -, para o sol e ninguém, nenhum ser existente, sabia do paradeiro de Nino. Preocupou-se. Sentou no começo daquela primeira escada e desesperada, chorou. Chamou por Nino baixinho, porque se gritasse machucava o ouvido do vento. Chorou em seus joelhos por muito tempo, até que o menino surgiu ao seu lado, acariciando-lhe as costas, perguntando o que houve. Ela o abraçou e perguntou:

- Onde você se meteu que nem o jacaré soube dizer?

Pegando em sua mão ele respondeu que estava na hora de voltar, mas a menina não queria.

- Helena, o tempo passou. Temos que voltar.

- Não passou, não temos.

- Você tem compromissos lá.

- Não tenho. Me deixa ficar. E fica comigo...

O menino, insistente na realidade, puxou a nefelibata e os dois foram embora do mundo idealizado-existente. Prometeram voltar. Na despedida, Helena deu um beijo em tudo que havia, via e ouvia e com um tchau molhado disse: Até logo, meu Pantanal.

Laysa Menezes

Um comentário:

Professor Ciência disse...

Laysa, realmente, esse texte me trouxe a maravilhosa lembrança de estar no Pantanal. Parabéns mais uma vez! Já disse que sou seu fã?