sábado, 16 de abril de 2011

Amassa

Faltava doce. O sal estava presente em todas as refeições da academia militar, mas o açúcar... Faltava doce. O paladar das pessoas já idealizava o grão branco sem gosto salgado. Tinha frutas, tinha adoçante, porém nada se comparava ao gosto real do cristalzinho.

Os soldados reclamaram aos cabos que reclamaram ao sargento, chegando ao coronel, até que – finalmente – tiveram uma resposta. O coronel anunciou que no dia seguinte haveria bolo de chocolate na sobremesa da segunda refeição.

O alvoroço foi grande. Nunca se almoçou tão rápido e nunca foi tão alto o índice de indigestão dos militares. Depois do almoço, formou-se uma fila no balcão em que se pegaria a sobremesa. O bolo ainda não estava pronto. Algum tempo depois surgiu, da cozinha, do outro lado do refeitório, um traço branco que se transformou numa mulher carregando uma, apenas uma, bandeja com pedaços de bolo.

Sargento Kal, conhecido por sua justiça e sagacidade, percebeu que não haveria mais bandejas e ele, que estava no final da fila, não conseguiria nada. Utilizando, então, só a sagacidade (“Justiça coisa nenhuma!”), andou com o braço estendido, cada vez mais rápido, em direção à mulher que já não estava tão distante. Os soldados que analisavam a situação perceberam logo as intenções do esperto sargento e puseram-se a fazer a mesma coisa. Novas pessoas foram fazendo o mesmo e outras e outras. Formou-se um amontoado de dedos, rostos, pernas, chocolate e ponto branco. Acabou-se tudo. Bolo e moral. Faltava doce.

Laysa Menezes

2 comentários:

Professor Ciência disse...

Laysa, fico impressionado com sua escrita. Um dia também serei assim.
Agora, qualquer coincidência é mero acaso não é?

Laysa Menezes disse...

Brigada, Rafael! Você achou alguma coincidência? hehehe