Não precisa falar. Não quer falar. Fica calado. Mão no
queixo, olhar distante observando, imperceptivelmente, tudo a sua volta. De
repente... Uma câmera um estalo uma piscada e, é claro, um lápis.
Essa conversa de olhos que é tão engraçada, tão íntima e
acolhedora, chama a todos. Ninguém fica fora da brincadeira. “Vamos criar? Só
mais um pouquinho, por favor. Hoje eu estou todo cinema. Quero uma filmadora
seguindo cada boca que é para pegar cada expressão. Não. Desse jeito não.” E
gestos, gestos, gestos... Todos abrem os olhos ansiosos, esperando. “O que ele
quer dizer com esse movimento todo, meu Deus do céu?”. É a palavra que não vem,
contraditório. Mas é tão claro, chega a ser estranho as pessoas não entenderem.
“Eu quero – mãos – é... – dedos – quero... – mão no rosto.”
Cada frase é poesia. Ele todo a é. Uma misteriosa,
divertida, descritiva, a-d-j-e-t-i-v-a. É magia, quase bruxaria. Sabe de tudo.
Ele nos lê e não precisamos falar. Nos suborna com um charme teatral “me dá sua
história?”. Caçador de frases cotidianas diferentes, que brilhem, para que ele
possa segurá-las, melhorá-las e entregá-las de presente ao caderno que vira
livro.
E não há abraço mais leve. Ele deve pensar: “Se eu
apertar demais talvez esprema palavras que não preciso” e ele só quer o
necessário. Então alisa as costas do abraçado. Pronto. O pouco já revela o
carinho da pessoa amiga que ouve e aconselha, falando sempre o que precisamos
ouvir. É bruxaria. Mais que isso, é observação. Mais que isso, é amizade.
Vamos, meu bem. Suba na janela e não espere, vá. Deixe
que o vento - que traz as palavras transparentes – te leve e te aperte, para
você explodir em contos, os outros poderem te respirar e, finalmente,
Fernandoriar.
Com muito carinho para meu amigo Fernando.
Laysa
Menezes