Olhos
castanhos e ansiosos procuravam os olhos verdes que passariam por ali. O
desfile anual da escola parecia um dia nublado antes que ele surgisse no meio
de alguns outros pezinhos. Demorava um pouco. A menina roía as unhas, os dedos,
as mãos, até que surgia o sol penteado, de cinto e botinhas. Ela puxava as
amigas e sorria empolgada. “Olha ali, como é lindo!”, falava feliz. Sentia seu
coração empurrando o peito pra frente. “É amor, é amor! Com certeza é!” e as
amigas em coro respondiam como apoio “É claro que é!”. E entravam numa
discussão sobre os sentimentos do menino - aquele ele-gosta-não-gosta.
- Vocês mal se falam... Mas acho
que ele gosta.
- Ah, ontem ele sorriu pra ela.
Vocês ainda têm dúvidas?
De
repente gelo. A menina apertava forte as mãos das amigas. Ele estava passando
na sua frente. Era frio, dor, calor, amor... A hipótese do amor. O menino olha. Desvia o olhar. E a garota se torna esperança acabada, balão estourado,
flor arrancada.
- Calma, amiga. Ele gosta de
você. Acho que é o nervosismo. Faz a gente esquecer o mundo.
- Ele tem que saber que eu gosto
dele – calculava a apaixonada iniciante de nove anos – Já sei. Vou fazer uma
carta de amor!
Pediu
à mãe papéis de carta, para colecionar, “como a senhora também fazia”. A mãe achou graça, comprou papéis, envelopes,
adesivos. Era uma explosão de rosa com corações.
Um
dia estava sozinha em casa. Ou quase. O pai dormia no sofá da sala.
Oportunidade perfeita. A menina pegou as canetas coloridas, os outros materiais
e pôs-se a escrever. Falou da falta de comunicação, do sentimento guardado, de
tudo. Para finalizar colocou duas figurinhas antecedidas pelas frases: “Sei que
estamos assim” - e dois bonecos de mãos dadas – e “Mas queria que estivéssemos assim
“- e dois bonecos se beijando. Pensou em desistir, mas a loucura e insanidade
alegre das crianças a fez continuar com a aventura.
Pediu
para que uma amiga entregasse na sala dele. Risos. Aplausos. Gracinhas.
Procura. Conversa. Abraços. Presentes. Reticências. Eternizou-se. Amizade.
Laysa Menezes